HOMENAGEM AO GRANDE POETA MARANHENSE FERREIRA GULLAR
Ferreira
Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930 – Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2016), foi um escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e
um dos fundadores do neoconcretismo. Foi o
postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Ivan Junqueira, da qual tomou posse em 5 de dezembro
de 2014.
Ferreira
Gullar nasceu em São Luís, em 10 de setembro de 1930, com o nome
de José Ribamar Ferreira. É um dos onze filhos do casal Newton Ferreira e
Alzira Ribeiro Goulart.
Sobre
o pseudônimo, o poeta declarou o seguinte: "Gullar é um dos sobrenomes de
minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da
família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no
Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é
do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o
Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é
inventada eu inventei o meu nome".
Segundo Mauricio
Vaitsman, ao lado de Bandeira
Tribuzi, Luci Teixeira, Lago Burnet, José Bento, José Sarney e outros escritores, fez parte de um
movimento literário difundido através da revista que lançou o pós-modernismo no
Maranhão, A Ilha, da qual
foi um dos fundadores. Muitos o consideram o maior poeta vivo do Brasil e não
seria exagero dizer que, durante suas seis décadas de produção artística,
Ferreira Gullar passou por todos os acontecimentos mais importantes da poesia
brasileira e participou deles.
Morando
no Rio de Janeiro, participou do movimento da poesia
concreta, sendo então um poeta extremamente inovador, escrevendo seus
poemas, por exemplo, em placas de madeira, gravando-os.
Em
1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do
início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com Lígia Clark e Hélio
Oiticica, o neoconcretismo, que valoriza a expressão e a
subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Posteriormente, ainda no início dos
anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento
levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir
uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPCs).
Em
2014, ele foi considerado um imortal na Academia Brasileira de Letras.
Ferreira
Gullar morreu em 4 de dezembro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro em
decorrência de vários problemas respiratórios que
culminaram em uma pneumonia
Prêmios e indicações
Ganhou o concurso de poesia
promovido pelo Jornal de Letras com seu poema "O Galo" em 1950. Os
prêmios Molière, o Saci e
outros prêmios do teatro em 1966 com Se correr o bicho pega, se ficar o
bicho come, que é considerada uma obra prima do teatro moderno brasileiro.
Em 2002, foi indicado por nove
professores dos Estados Unidos, do Brasil e
de Portugal para
o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, seu livro Resmungos ganhou
o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do
ano. O livro, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, reúne crônicas de Gullar publicadas no jornal Folha de S.
Paulo no ano de 2005. Foi considerado pela Revista Época um
dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
Foi agraciado com o Prêmio Camões em 2010. Em 15 de outubro de
2010, foi contemplado com o título de Doutor Honoris
causa, na Faculdade de Letras da UFRJ.
Em Imperatriz, ganhou em sua homenagem o
teatro Ferreira Gullar.
Em 1999 é inaugurada em São Luís
a Avenida Ferreira Gullar.
Em 20 de outubro de 2011, ganhou
o Prêmio Jabuti com o livro de poesia. Em Alguma Parte Alguma, que foi
considerado "O Livro do Ano" de ficção.
Em 2011, a obra Poema Sujo inspirou
a vídeo instalação Há muitas noites na noite, dirigida
por Silvio Tendler. Em 2015, o poema inspirou uma série documental,
também denominada: "Há muitas noites na noite", com sete episódios
com 26 minutos cada, exibida na TV Brasil entre
dezembro de 2015 e janeiro de 2016, também dirigida por Silvio Tendler.
Poesia
Antologias
·
Toda poesia, 1980
·
Ferreira Gullar - seleção de Beth Brait, 1981
·
Os melhores poemas de Ferreira Gullar - seleção de Alfredo Bosi, 1983
·
Poemas escolhidos, 1989
Contos e
crônicas
·
Gamação, 1996
·
Cidades inventadas, 1997
·
Resmungos, 2007
Teatro
·
Um rubi no umbigo, 1979
Crônicas
·
A estranha vida banal, 1989
·
O menino e o arco-íris, 2001
Memórias
·
Rabo de foguete - Os anos de exílio, 1998
Biografia
Literatura
infantil
·
Zoologia bizarra, 2011
Ensaios
·
Teoria do não-objeto, 1959
·
Cultura posta em questão, 1965
·
Vanguarda e subdesenvolvimento, 1969
·
Augusto do Anjos ou Vida e morte nordestina, 1977
·
Tentativa de compreensão: arte concreta, arte neoconcreta - Uma
contribuição brasileira, 1977
·
Uma luz no chão, 1978
·
Sobre arte, 1983
·
Etapas da arte contemporânea: do cubismo à arte neoconcreta, 1985
·
Indagações de hoje, 1989
·
Argumentação contra a morte da arte, 1993
·
O Grupo Frente e a reação neoconcreta, 1998
·
Cultura posta em questão/Vanguarda e subdesenvolvimento, 2002
·
Rembrandt, 2002
·
Relâmpagos, 2003
Televisão
Filmes
Academia Brasileira de
Letras
Ferreira Gullar foi postulante
eleito da cadeira 37 na Academia Brasileira de Letras, tendo
obtido na votação 36 dos 37 votos possíveis derrotando os outros candidatos:
Ademir Barbosa Júnior, José Roberto Guedes de Oliveira e José William Vavruk em
apenas 15 minutos, com uma abstenção que permanece anônima devido a queima das
fichas após o resultado da urna em 9 de outubro de 2014, tendo votado 19
acadêmicos por presença física e 18 por cartas.
A cadeira tem como patrono o
poeta e inconfidente mineiro Tomás Antônio Gonzaga e foi ocupada
anteriormente por personalidades como Silva Ramos, Alcântara Machado, Getúlio
Vargas, Assis Chateubriand, João Cabral de Melo Neto e
recentemente pelo ensaísta e curador Ivan
Junqueira, amigo de Gullar.
Sua posse era marcada para
novembro, depois de várias recusas do escritor em convites anteriores.
Em 5 de dezembro de 2014, Gullar
tomou posse de sua cadeira, a número 37, na Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 04 de dezembro de 2016 no Rio de Janeiro.
Veja os 15 Melhores Poemas de Ferreira Gullar
1.
Poema: Não há vagas – Ferreira Gullar
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
2.
Poema: Traduzir-se – Ferreira Gullar
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
3.
Poema: No corpo – Ferreira Gullar
No corpo
De que vale tentar reconstruir com
palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
4.
Poema: Poemas Neoconcretos I – Ferreira Gullar
Poemas Neoconcretos
I
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
5.
Poema: Aprendizado – Ferreira Gullar
Aprendizado
Do mesmo modo que te abriste à
alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
o que a alimenta.
6.
Poema: Um Instante – Ferreira Gullar
Aqui me tenho/ Como não me
conheço/ nem me quis/ sem começo/ nem fim/ aqui me tenho/ sem mim/ nada lembro/
nem sei/ à luz presente/ sou apenas um bicho/ transparente. Um instante, poema
de Ferreira Gullar.
7.
Poema: Subversiva – Ferreira Gullar
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
8.
Poema: Os mortos – Ferreira Gullar
Os mortos
os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos
pelos olhos dos vivos
eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias
Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça
9.
Poema: Cantiga para não morrer – Ferreira Gullar
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
10. Poema: Prometi-me
Possuí-la – Ferreira Gullar
Prometi-me
Possuí-la
Prometi-me possuí-la muito embora
ela me redimisse ou me cegasse.
Busquei-a na catástrofe da aurora,
e na fonte e no muro onde sua face,
ela me redimisse ou me cegasse.
Busquei-a na catástrofe da aurora,
e na fonte e no muro onde sua face,
entre a alucinação e a paz sonora
da água e do musgo, solitária nasce.
Mas sempre que me acerco vai-se embora
como se temesse ou me odiasse.
da água e do musgo, solitária nasce.
Mas sempre que me acerco vai-se embora
como se temesse ou me odiasse.
Assim persigo-a, lúcido e demente.
Se por detrás da tarde transparente
seus pés vislumbro, logo nos desvãos
Se por detrás da tarde transparente
seus pés vislumbro, logo nos desvãos
das nuvens fogem, luminosos e ágeis!
Vocabulário e corpo — deuses frágeis —
eu colho a ausência que me queima as mãos.
Vocabulário e corpo — deuses frágeis —
eu colho a ausência que me queima as mãos.
[Poemas Portugueses]
11. Poema: Extravio –
Ferreira Gullar
Extravio
Onde começo, onde acabo,
se o que está fora está dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?
se o que está fora está dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?
Estou disperso nas coisas,
nas pessoas, nas gavetas:
de repente encontro ali
partes de mim: risos, vértebras.
nas pessoas, nas gavetas:
de repente encontro ali
partes de mim: risos, vértebras.
Estou desfeito nas nuvens:
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um menino,
que sou eu mesmo, a chamar-me.
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um menino,
que sou eu mesmo, a chamar-me.
Extraviei-me no tempo.
Onde estarão meus pedaços?
Muito se foi com os amigos
que já não ouvem nem falam.
Onde estarão meus pedaços?
Muito se foi com os amigos
que já não ouvem nem falam.
Estou disperso nos vivos,
em seu corpo, em seu olfato,
onde durmo feito aroma
ou voz que também não fala.
em seu corpo, em seu olfato,
onde durmo feito aroma
ou voz que também não fala.
Ah, ser somente o presente:
esta manhã, esta sala.
esta manhã, esta sala.
12. Poema: Madrugada –
Ferreira Gullar
Madrugada
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite
a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes.
sobre meu país dividido em classes.
13. Poema: Neste Leito
de Ausência – Ferreira Gullar
Neste Leito de
Ausência
Neste leito de ausência em que me
esqueço
desperta o longo rio solitário:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessário.
desperta o longo rio solitário:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessário.
O rio corre e vai sem ter começo
nem foz, e o curso, que é constante, é vário.
Vai nas águas levando, involuntário,
luas onde me acordo e me adormeço.
nem foz, e o curso, que é constante, é vário.
Vai nas águas levando, involuntário,
luas onde me acordo e me adormeço.
Sobre o leito de sal, sou luz e
gesso:
duplo espelho — o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,
de silêncio em silêncio me apodreço.
duplo espelho — o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,
de silêncio em silêncio me apodreço.
Entre o que é rosa e lodo necessário,
passa um rio sem foz e sem começo.
passa um rio sem foz e sem começo.
[Poemas Portugueses]
14. Poema: Meu povo,
meu poema – Ferreira Gullar
Meu povo, meu poema
Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova
como cresce no fruto
a árvore nova
No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar
como no canavial
nasce verde o açúcar
No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro
como o sol
na garganta do futuro
Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta
menos como quem canta
do que planta
15. Poema: MINHA MEDIDA
– Ferreira Gullar
MINHA MEDIDA
Meu espaço é o dia
de braços abertos
tocando a fímbria de uma e outra noite
o dia
que gira
colado ao planeta
e que sustenta numa das mãos a aurora
e na outra
um crepúsculo de Buenos Aires
de braços abertos
tocando a fímbria de uma e outra noite
o dia
que gira
colado ao planeta
e que sustenta numa das mãos a aurora
e na outra
um crepúsculo de Buenos Aires
Meu espaço, cara,
é o dia terrestre
quer o conduzam os pássaros do mar
ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil
o dia
medido mais pelo pulso
do que
pelo meu relógio de pulso
é o dia terrestre
quer o conduzam os pássaros do mar
ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil
o dia
medido mais pelo pulso
do que
pelo meu relógio de pulso
Meu espaço — desmedido —
é o nosso pessoal aí, é nossa
gente,
de braços abertos tocando a fímbria
de uma e outra fome,
o povo, cara,
que numa das mãos sustenta a festa
e na outra
uma bomba de tempo.
é o nosso pessoal aí, é nossa
gente,
de braços abertos tocando a fímbria
de uma e outra fome,
o povo, cara,
que numa das mãos sustenta a festa
e na outra
uma bomba de tempo.
REFERENCIAS
2. ↑ Ir para:a b c d «Ferreira
Gullar». UOL - Educação. Consultado em 10 de setembro de 2012.
3. Ir para cima↑ «Ferreira
Gullar se candidata a vaga na Academia Brasileira de Letras». Globo.com.
14/07/2014. Consultado em 26 de agosto de 2014.
4. Ir para cima↑ «Vagas na ABL
serão ocupadas por Zuenir, Evaldo Mello e Ferreira Gullar». Diário
de Pernambuco. 01/08/2014. Consultado em 26 de agosto de 2014.
5. ↑ Ir para:a b c Daniel
Silveira (5 de dezembro de 2014). g1.globo, : . «Poeta
Ferreira Gullar toma posse na Academia Brasileira de Letras».
Consultado em 11 de dezembro de 2014.
6. Ir para cima↑ «Ferreira
Gullar dá palestra em Pinda». Tribunadonorte.net. 16 de novembro de
2010.
9. Ir para cima↑ (2016-12-04)
"Morre o poeta
Ferreira Gullar, aos 86 anos" (em pt-BR). O Globo.
10. Ir para cima↑ «Poeta
Ferreira Gullar morre de pneumonia aos 86 anos no Rio - 04/12/2016 - Ilustrada
- Folha de S.Paulo». www1.folha.uol.com.br. Consultado
em 2016-12-04.
11. ↑ Ir para:a b «Ferreira
Gullar, grande poeta e crítico, ex-militante do Partido Comunista» [S.l.:
s.n.] Revista Veja. 22 de dezembro de 2012. Consultado em 17 de marco de 2014.
12. Ir para cima↑ Ferreira
Gullar, em entrevista à revista piauiense Revestres, Jan/Fev 2014
13. Ir para cima↑ Gullar,
Ferreira. (6 de maio de 2012). Dialética da mudança. Folha de
S.Paulo, p. E10.
14. Ir para cima↑ «Época -
NOTÍCIAS - Os 100 brasileiros mais influentes de 2009».
Revistaepoca.globo.com. Consultado em 20 de dezembro de 2009.
15. Ir para cima↑ G1. «Poeta
Ferreira Gullar ganha Prêmio Camões de 2010». G1. Consultado em 31 de
maio de 2010.
16. Ir para cima↑ «Prêmio
Jabuti». Cbl.org.br.
17. Ir para cima↑ «Ferreira
Gullar e Laurentino Gomes são os grandes vencedores do Prêmio Jabuti 2011». Universo
Online. abril de 2012.
18. Ir para cima↑ "Há
muitas noites na noite", Videoinstalação sobre "Poema Sujo”, de
Ferreira Gullar, acesso em 24 de julho de 2016.
19. Ir para cima↑ Silvio
Tendler estreia na TV Brasil “Há muitas Noites na Noite”, acesso em
24 de julho de 2016.
20. Ir para cima↑ Silvio
Tendler dirige série sobre 'Poema Sujo', de Ferreira Gullar, acesso
em 24 de julho de 2016.
21. Ir para cima↑ TV Brasil
estreia série documental sobre a trajetória do poeta Ferreira Gullar no exílio
neste sábado (5/12), acesso em 24 de julho de 2016.
22. Ir para cima↑ «Ferreira
Gullar é eleito para a Academia Brasileira de Letras». Lívia
Torres. G1 Rio de Janeiro. 09/10/2014. Consultado em 14/10/2014.
23. Ir para cima↑ «Poeta
Ferreira Gullar é eleito para a ABL». Exame. 09/10/2014. Consultado
em 14/10/2014.
24. Ir para cima↑ «Ferreira
Gullar não vai para a ABL». Associação Brasileira de
Imprensa. 01/03/2011. Consultado em 14/10/2014.